Embora o uso
da Biotecnologia pareça ser recente, ela já ocorre há mais de seis mil anos
através da utilização de microrganismos na produção de produtos fermentados
como a cerveja e o pão. Contudo, o aprimoramento das técnicas de manipulação
genética e o aprofundamento na Biologia Molecular são adventos recentes da
história da Biotecnologia.Num primeiro momento durante sua história, a
Biotecnologia esteve voltada principalmente para a saúde. Em 1929, a fabricação
de antibióticos como a penicilina produzida pelas culturas de Penicillum
notarum foi descoberta por Alexander Fleming (Bennett & Chung, 2001). Em
1953, James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura do DNA.
Na década de
1970 ocorreu o início das metodologias de uso do DNA recombinante e do
sequenciamento do DNA que proporcionaram grandes avanços na ciência de plantas.
Com relação as contribuições da Biotecnologia na área da Bioenergia, diversos
questionamentos de ordem econômica e ética surgem quando se trata do tema.
Diante das previsões
de crescimento populacional mundial, atingindo nove bilhões de habitantes em
2050 (Ash et al., 2010), existe o desafio de criar métodos avançados e
eficientes para aumentar a produção de alimentos e energia renovável sem,
contudo, esgotar os recursos naturais. Em 2050, o mundo provavelmente estará
vivendo sob a influência de três grandes crises anunciadas: a diminuição das
reservas de petróleo, a escassez de água potável e a falta de alimentos para
grande parte da população. Nesse cenário, a biotecnologia ocupa papel central
na busca de soluções para atenuar os problemas, atuais e futuros, causados pelo
estilo de vida adotado pelo homem. Além de ser o pioneiro na produção da
bioenergia para uso em transporte automotivo, até recentemente, o Brasil era o
único país a possuir um programa para a substituição dos combustíveis fósseis -
o Proálcool.
No Brasil, o
desenvolvimento do etanol combustível mostrou ser uma alternativa viável para
reduzir a dependência do petróleo.
Entretanto, a maioria das regiões agriculturáveis do planeta não possui
as condições edafoclimáticas necessárias para o cultivo de plantas com
potencial para a produção de biocombustíveis. Em contrapartida, o cultivo
extensivo e exclusivo de plantas para a produção de energia pode gerar
problemas no abastecimento de alimentos para a população, como escassez e
elevação de preços. Nesse contexto, a biotecnologia se insere como propulsora
para o aumento da produtividade, da qualidade da produção e para o
desenvolvimento de plantas adaptadas a diversas condições ambientais de
espécies com potencial energético. Em adição, a biotecnologia atua no
desenvolvimento de outras fontes de bioenergia como a produção de
biocombustíveis a partir de algas transformadas geneticamente (Beer et al.,
2009).
A produção de
biodiesel, uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, deve constituir, no
Brasil, uma meta mais ambiciosa, tanto em termos de defesa do meio ambiente,
quanto da geração de empregos no campo, portanto, de cunho social. Produzimos,
com eficiência, plantas oleaginosas cujos frutos, reagindo com o álcool, dão
origem ao tipo de combustível próprio para os motores de auto-combustão. Já
dominamos plenamente a tecnologia para a transformação dos óleos vegetais em
rica fonte de energia, matéria-prima para o biodiesel.
Dentre as
oleaginosas disponíveis, a soja é a campeã, em termos de custo e de volume de
produção, por permitir uma forma de agricultura mecanizável, podendo assim
ocupar grandes áreas e abrindo campo para altos investimentos. Os benefícios,
que o Brasil vem obtendo com isso, têm sido muitos em termos de fortalecimento
da agricultura e da agroindústria, com a geração de empregos e desenvolvimento
tecnológico.
Contudo, com
o surgimento dos problemas ambientais, climáticos e a escassez de energia, a
demanda por profissionais qualificados aumentou consideravelmente nos últimos
anos. Assim, é de suma importância a
capacitação de profissionais de qualidade neste promissor setor de pesquisa. A
formação de biotecnólogos que entendam os processos e as questões relacionadas
ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável passam a ser extremamente
importantes, principalmente na obtenção de novas fontes de energia, diminuindo
as desvantagens e os riscos da expansão energética sem depender da diminuição
da produção de alimentos e aumentos dos preços, além dos desmatamentos.
Baseado na
Disciplina ‘Tecnologias Limpas e Biocombustíveis’ ministrada pelo Prof. Dr.
André Bellin Mariano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASH, C. et al. Feeding the future. Science, v.327, p.797, 2010.
BEER, L. L.
et al. Engineering algae for biohydrogen and biofuel production. Current
Opinion in Biotechnology, v.20, n.3, p.264-71, 2009.
BENNETT, J.
W; CHUNG, K.-T. Alexander Fleming and the discovery of penicillin. Advances in
Applied Microbiology, v.49, p.163-84, 2001.
Autor:
Bruno Miyawaki
Orientador:
Prof. André Bellin Mariano, D.Sc.